Ambos países têm uma história longa de exposição ao risco do terrorismo e de experiência na área do contraterrorismo. Em França, os atentados de 2015 em Paris foram percebidos como um ponto de viragem nas atitudes nacionais face à segurança interna. O pânico moral gerado em torno destes eventos também derivou do perfil dos seus perpetradores: a maioria dos envolvidos eram cidadãos franceses e belgas, o que contribuiu para que em França e na Europa se tornassem conscientes do risco do terrorismo interno.
No Reino Unido, os atentados terroristas de 2017 (ataque de Westminster, de Manchester e os atentados de London Bridge e Finsbury Park) reforçaram o pânico moral associado às migrações, habilmente cultivado por alguns media e atores políticos que retrataram as populações refugiadas e migrantes no evento da chamada “crise de refugiados de 2015/6” como “falsos”, “criminosos” ou “potencialmente terroristas”, sublinhando o papel de nacionais britânicos na perpetração de ataques terroristas no Reino Unido e internacionalmente, nomeadamente por parte de aqueles que se juntaram ao ISIS na Síria e em outros territórios. O enfoque nas mulheres e raparigas que se juntaram ao ISIS foi uma característica recorrente deste tipo de cobertura mediática.
Este estudo de caso visa examinar os tropos de género e racializados presentes nas narrativas mediáticas hegemónicas sobre mulheres francesas e britânicas envolvidas no ISIS/Daesh, analisar as implicações destes em termos de consolidação de estereótipos e hierarquias de sofrimento e a re/ativação de determinados discursos e políticas de securitização (por exemplo, a proposta do governo francês de 2016 de retirada da nacionalidade francesa a cidadãos envolvidos no terrorismo e a decisão do governo britânico em 2019 de retirar a nacionalidade a Shamima Begum).