As agressões sexuais ocorridas na noite de passagem de ano de 2015 em Colónia e noutras cidades alemãs provocaram debates acesos sobre migração, lei de asilo, multiculturalismo, Islão, feminismo, a ética dos media, securitização de espaços públicos e legislação penal sobre crimes sexuais. Verificou-se também um aumento no número de agressões a imigrantes e um endurecimento das atitudes sociais perante a lei de asilo. Alguns crimes sexuais posteriores cometidos por refugiados reativaram e reforçaram narrativas já muito disseminadas sobre os homens muçulmanos como sendo sexualmente perigosos e masculinidades (arcaicas) degeneradas. Os media contribuíram decisivamente para a racialização da violência sexual e para o substrato islamofóbico e xenófobo que atravessou o pânico moral em torno destes acontecimentos.
Este estudo de caso pretende analisar a cobertura mediática alemã das agressões sexuais em Colónia e de outros crimes de natureza sexual cometidos por refugiados. Situa os debates gerados por estes eventos no contexto mais alargado dos discursos de medo, marcados por imaginários de identidade sexual racializada, e da mobilização de tropos nativistas na instauração de fronteiras etno-nacionalistas para a comunidade imaginada. Analisa o impacto destes acontecimentos na Alemanha e as suas interconexões com narrativas europeias transnacionais sobre migração, asilo e perceções racializadas de crise e crime. Um foco importante da investigação incide sobre os contributos de feministas de diversas origens e nacionalidades para os debates alemães sobre Colónia.